segunda-feira, 28 de julho de 2008

Textos Olimpíadas de Português - Texto 12

Café na avenida: certo ou errado?

Angélica Larissa Ferreira


Um fato estranho aconteceu em minha cidade. O prefeito interditou a avenida principal para secagem de café, provocando muita polêmica.

Um cafeicultor pediu um espaço ao prefeito alegando que a colheita estava atrasada por causa da chuva, como a safra foi muito grande ele já não possuía espaço suficiente para secar café. Segundo ele, e o prefeito não cedesse um espaço, ele teria que parar com safra e demitir duzentos trabalhadores rurais.

Algumas pessoas estão revoltadas com a atitude do prefeito, mas outras consideram que ele está certo.

Os que são contra dizem que o prefeito agiu com intenções políticas, porque é candidato à reeleição; dizem ainda que a medida atrapalhou o trânsito; que a população não foi avisada com antecedência e que essa atitude abre precedentes para outros produtores solicitarem o mesmo benefício, caso fiquem em dificuldades.

Os que são favoráveis dizem que a medida impediu a demissão dos trabalhadores, que a avenida é larga o suficiente para ser usada em mão dupla e que será utilizada por pouco tempo, aproximadamente trinta dias.

Eu penso que com a pista interditada havia possibilidade de acontecer acidentes, visto que a interdição da avenida não foi mesmo comunicada com antecedência à população. Esta avenida é uma das mais movimentadas de minha cidade, pois dá acesso ao distrito industrial, à usina de açúcar e álcool e à rodovia estadual próxima, portanto não deveria estar sendo usada dessa forma.

Penso ainda que o fazendeiro deveria ter construído outros terreiros para secar café ou tentar encontrar outra solução sem incomodar os cidadãos, pois acredito que dinheiro não é problema para ele, já que como foi publicado no jornal da cidade o cafeicultor é o maior produtor da região.

Apesar de algumas pessoas garantirem que o decreto do prefeito é legal, porque está previsto na lei orgânica do município em seu artigo 94, o promotor de justiça afirmou que “a medida é juridicamente discutível”.

Portanto, sou contra a colocação do café na avenida porque privilegia alguns em detrimento de outros, abre precedentes e atrapalha o trânsito da cidade.


Angélica Larissa Ferreira, aluna da professora Maria Ângela Tidei,

da E. E. Professora Laura Rebouças de Abreu,

participante do Prêmio Escrevendo o Futuro.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 11

Doce Içara com sabor amargo

Joice Zilli da Silva


Içara é a acapital do mel, cidade mais doce do Brasil. Agora, com um sbor diferente, amargo, que vem preocupando seus moradores.

Numa localidade vizinha, na zona rural de Santa Cruz, há um projeto para instalação de uma mina de carvão. Com a abertura da mina, os moradores descontentes acabarão abandonando suas terras, vendendo-as e deixando pra trás toda uma vida dedicada ao campo, especialmente à apicultura.

Durante a entrevista realizada na Câmara Municipal de Vereadores, um vereador informou que os projetos foram discutidos e aprovados. A polêmica continua, no entanto a decisão caberá ao Poder Judiciário.

Penso que a população deveria ser consultada sobre o assunto. Os agricultores e a empresa mineradora deveriam ter a preocupação com o meio ambiente, cumprindo a Constituição Brasileira que prevê que a agressão ao meio ambiente é crime.

Segundo pesquisa realizada pela 4ª série, turma 43 da E. E. B. “Antonio Colonette”, das 819 pessoas ouvidas de várias localidades do município de Içara, constatamos que 70% são contra a instalação da mina, porque prejudica o meio ambiente, o solo, a água, o ar, a vida dos seres vivos, com risco de morte, além do cheiro insuportável da perita. Elas têm consciência de que a mina vai acabar com a atividade agrícola, vai prejudicar a terra. Porém, 30% são a favor, pois a abertura da mina trará novos empregos, lucro ao município, com aumento de arrecadações dos impostos, crescimento, novas tecnologias, modernidade, além da fabricação do cimento, energia, aço etc.

Na minha opinião, a localidade de Santa Cruz tem muitas famílias que vivem lá há anos, trabalhando na terra, tirando o seu e o nosso sustento, e precisam permanecer na terra, sem que haja a instalação da mina. Continuar com a terra fértil, cheia de plantações, água pura, potável, com pessoas que a amam será a melhor solução.

Afinal, este”sabor amargo” do carvão precisa ser reconhecido por todos, adoçado com um pouquinho de mel, preservando a vida.


Joice Zilli da Silva, 11 anos, aluna da professora Edina da Silva de Freitas,

da E. E. B. Antonio Colonetti, Içara (SC), participante do Prêmio Escrevendo o Futuro.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 10

Carne, um vilão ecológico

Jair Donato


Há duas maneiras de olhar o mundo e os impactos que o homem provoca nele. A primeira, capitalista, por ser uma visão míope e devastadora, impede de ver que os recursos naturais são destruídos em curto prazo, como se não houvesse futuro. A segunda visão, essa merece uma reflexão mais profunda, é a longo prazo, onde se percebe que o resultado da primeira, na maior parte das vezes, é irreversível.

É de fato que as atividades humanas, principalmente no século XX, foram responsáveis pelas alterações do clima no planeta, e provocam o superaquecimento da Terra. Segundo estudos publicados pela Organização das Unidas para Agricultura a Alimentação (FAO), a comida atual da humanidade, à base de carne, se tornou uma das grandes fontes depreciativas e poluidoras do meio ambiente.

Todo o processo de produção e consumo de carne de boi, peixe, frango ou porco, dentre outras, é responsável pela poluição do ar, do solo e da água, quando aplicado sem respeito ao meio ambiente. Os animais são grandes emissores de gases poluentes, além das áreas de recursos naturais que são devastadas para criá-los.

É inegável que a maior parte do crescimento da criação bovina no Brasil se dá à custa da destruição das florestas. O especialista em ecoturismo, João Meirelles Filho, autor de “O livro de Ouro da Amazônia” diz que o boi é a principal razão da destruição dos ecossistemas brasileiros. Foram 93% da mata Atlântica, 80% da Caatinga, 50% do Cerrado e 18% da Amazônia, devastados para essa função.

Além de poucas vantagens coletivas na atividade bovina, é um péssimo empregador. Poucos cuidam de milhares de cabeças de gado, altamente lucrativas para um segmento, é prejuízo para a natureza. Anualmente, mais de bilhões de metros quadrados da Floresta Amazônica são derrubados para plantio de grãos, seguido da criação de pasto.

Segundo dados do IBGE (2000), no Brasil o número de cabeças de gado ultrapassa a população, são quase 200 milhões de bovinos. Quase 70% da pecuária é representada por bovinos, a maioria para corte, outra parte, para leite. Foi estimada uma emissão em torno de 9,2 milhões de toneladas de metano, gás liberado pelos animais, que polui até 21 vezes mais do que o gás carbônico, provenientes da pecuária.

Dos gases que formam a camada do defeito estufa, 18%, vêm da criação bovina e suína. Segundo a FAO, cerca de 37% das emissões globais de metano e 65% de óxido nitroso, gases poluentes dezenas de vezes superior ao gás carbônico, surgem dessas atividades. Uma vaca chega a produzir 600 litros/dia de metano. Há país que esse número chega até 700 litros, devido à fermentação do alimento recebido.

Atualmente, a questão ética se passa, fundamentalmente, pela postura do consumidor ao adquirir produtos ecologicamente corretos. Ambientalistas, ecologistas e climatólogos apontam a importância do consumo consciente na alimentação à base de carne, como forma de poluir e degradar menos.

Quase metade das terras propícias para agricultura, no planeta, já virou pasto. Cerca de 35% de todos os grãos produzidos mundialmente são destinados à ração bovina, quantia que supriria a fome nos países pouco desenvolvidos, carentes de alimentos. Mas parece que é a fome que é ilícita e ignorada, em detrimento do delírio mercantilista de poucos.

Mato Grosso, econômica e politicamente, tem títulos internacionais como maior parque pecuário do país e grande produtor de grãos. Na primeira visão, a do velho paradigma de ganho, isso pode ser sinônimo de riqueza e desenvolvimento. Mas para quem? Para quantos? Por quanto tempo? Talvez seja o momento de uma profunda reflexão a longo prazo, preservar e conservar mais, sem poluir tanto.

Pense no impacto dos próximos anos em que o planeta terá de suportar 9 bilhões de pessoas, se não houver uma mudança ecológica nos hábitos alimentares. Sem radicalismos, mas isso merece um repensar individual e coletivo. Mais que uma questão de saúde, é uma atitude ambientalmente correta. Qual a sua visão? É e curto ou em longo prazo? Isso é o que pode fazer você agir diferente, e seus filhos viverem melhor.


Jornalista em Cuiabá, consultor life coach —, professor universitário, especialista em gestão de pessoas e qualidade de vida.


e-mail: jairdomnato@gmail.com

Textos Olimpíadas de Português - Texto 9

A cobrança da água

Sebastião Almeida


Após mais de cinco anos de discussão, a Assembléia Legislativa aprovou um projeto muito importante do ponto de vista social e ambiental: o que estabelece a cobrança pelo uso da água no Estado de São Paulo. Polêmico, o projeto foi aprovado após inúmeras discussões entre ambientalistas e na própria Assembléia. Pela nova lei, O Estado vai passar a cobrar também pela captação de água nos rios, aqüíferos e reservatórios. Hoje, a cobrança recai apenas sobre a distribuição e o tratamento.

O ponto mais polêmico refere-se ao suposto impacto na conta final do consumidor. Aqueles que são contra a cobrança afirmam que a população será, penalizada por mais um encargo. É bom que se esclareça que essa informação é totalmente falsa. o preço fixado é de, no máximo, um centavo para cada mil litros consumidos. Levando-se em consideração que o consumo médio de uma pessoa em casa é de cinco mil litros por mês, um casal deve pagar cerca de 10 centavos a mais na sua conta de água. Além disso, cerca de 500 mil consumidores estarão isentos da nova taxa, pois pagam a tarifa social destinada à população de baixa renda.

O maior impacto será sentido, na verdade, pelas grandes indústrias e empresas, que utilizam muita água. Mesmo assim, os benefícios são incontáveis para toda a sociedade. Todos nós sabemos que a exploração racional da água é vital para a sobrevivência da humanidade. Atualmente, mais de 30% da água retirada dos rios é desperdiçada na distribuição à população. Com a cobrança, as empresas de distribuição e tratamento terão mais recursos e vão querer investir me medidas para combater as perdas.

Outro ponto refere-se ao controle ambiental. A nova taxa deve cerca de R$ 300 milhões para serem investidos nas bacias e ações de proteção ao meio ambiente. As hidrelétricas também devem ser taxadas, mas devem repassar o custo ao consumidor final, pois elas já pagam royalties federais. O setor agrícola vai ter tempo para se adaptar à nova taxa, pois a tarifa para os agricultores só será cobrada a partir de 2010.

A cobrança pela captação de água não chega a ser novidade. Nos Estados Unidos e em diversos países da Europa ela é praticada há muitos anos. Aqui no Estado de São Paulo, desde 2003 a água é cobrada na bacia do Rio Paraíba do Sul, no vale do Paraíba. A medida garante uma receita anual de mais de 7 milhões, que são investidos em projetos de controle ambiental na bacia, que envolve 180 municípios nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. E a experiência do Paraíba do Sul está muito longe de pesar no bolso dos consumidores.

Agora, o que é necessário é fiscalizar muito bem como serão aplicados os recursos captados com a taxa. Aqui no Brasil é muito comum criarem taxas e mais taxas para fins específicos e o dinheiro simplesmente sumir em meio à burocracia da máquina pública, em todas as esferas. os mais velhos certamente se lembrarão da desastrosa cobrança do selo-pedágio,na década de 80, cuja finalidade era recuperar a malha rodoviária do País. E todos nós sabemos a situação em que se encontram nossas rodovias.

A sociedade civil, as organizações ambientais e os comitês de bacia têm um papel muito importante a executar. Cabe a toda sociedade auxiliar no planejamento das ações e controle dos recursos oriundos da nova taxa. Ao governo estadual cabe democratizar as discussões e ouvir a população e os comitês para definir as prioridades em todo o Estado. A cobrança já está autorizada, não vai pesar no bolso dos consumidores e certamente será apoiada por toda a sociedade. Desde que haja responsabilidade do poder público em gerir bem esses recursos para garantir a preservação dos nossos recursos hídricos. Dessa vez, não estamos falando de recuperação de rodovias. Estamos falando da preservação de um bem essencial para toda a humanidade.


Sebastião Almeida é presidente da Comissão de Meio Ambiente da

Assembléia e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água.

Fonte: Diário on-line, Marília, 21/12/2005.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 8

R$ 14,53 para viver o dia

Sylvia Romano


“O salário mínimo surgiu no Brasil em meados da década de 30. A Lei nº 185 de janeiro de 1936 e o Decreto-Lei nº 339 de abril de 1936 regulamentaram a instituição do salário mínimo como, a remuneração mínima devida a todo trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do país, às necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte. O Decreto-Lei nº 2126 de 1º de maio de 1940 fixou os valores do salário mínimo, que passaram a vigorar a partir do mesmo ano.”
Quando então o presidente Getúlio Vargas anunciou a implantação do salário mínimo, a notícia foi recebida com euforia e, de imediato, milhões de trabalhadores foram beneficiados com a nova medida, já que na época ganhavam abaixo desse valor.
Agora acaba de ser divulgado em nossos principais veículos de comunicação que o brasileiro passará a ter em 2008 um reajuste do salário mínimo e que o mesmo será elevado para R$ 408,00 (quatrocentos e oito reais) mensais.
Fazendo um cálculo primário, multiplicando a importância por 13 meses, somando-se o 13º salário e dividindo-se o total por 365 dias do ano, chegaremos ao valor de R$ 14,53 (quatorze reais e cinqüenta e três centavos) para sobreviver um dia. Com esta importância o brasileiro, se for sozinho, sem mulher, filhos e agregados, terá de pagar transporte, moradia, alimentação, serviços básicos, impostos, vestuário e outras necessidades prementes como, saúde e educação, ou seja, o básico que uma vida digna exige.
Levando-se em conta que a grande parcela de salários é exatamente o salário mínimo, surge uma questão: Como essas enorme população viverá? Será que os economistas do governo já fizeram essa conta simplista? Não saberia calcular o mínimo necessário para se ter a dignidade da independência financeira, até porque ela varia muito de pessoa para pessoa, de região para região e de referencial para referencial. Mas tenho certeza que, como o novo salário mínimo que se pretende para 2008, vamos continuar a ver a pobreza florescendo dia a dia e, com ela, a violência crescendo cada vez mais, pois frente as necessidades da miséria, não restará ao cidadão menos favorecido outra alternativa a não ser a deliqüencia e a violência, únicas saídas para a sobrevivência.
O salário mínimo foi criado para atender às necessidades básicas do trabalhador. Seria bom que os nossos atuais governantes se inteirassem da realidade e revissem, junto aos seus economistas, a situação financeira de nossa população.

Sylvia Romano é advogada trabalhista, responsável pelo Sylvia Romano Associados, de São Paulo.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 7

Uma polêmica brasileira

Dirceu de Souza Cetto


Através de um projeto que já vinha há muito tempo em tramitação no legislativo e foi finalmente acordado, a população brasileira, no próximo mês de outubro, decidirá sobre uma questão polêmica: o comércio de armas de fogo e munição no Brasil. Um assunto que divide opiniões.

Muitas pessoas acreditam que a proibição não vai resolver as questões de violência que atinge o Brasil, pois crêem que a violência gerada com tais artefatos é cometida por criminosos, que com ou sem lei. irão adquirir, na ilegalidade. Entretanto, s pesquisas mostram que os países como Inglaterra, Austrália, após a redução do número de armas na comunidade, houve aumento de criminalidade.

Já os defensores que proíbem a comercialização de armas de fogo alegam que o Brasil só vai ganhar com o “sim” final do referendo. Segundo esses defensores, o Brasil é campeão em mortes por armas de fogo, pois, segundo estatísticas, morrem, vitimadas por elas, 14 pessoas por minuto no país.

O referendo vai ser a ferramenta capaz de processar a manifestação pública, favor ou contra o armamento. Cabe a cada um defender a sua opinião com argumentos verídicos e lutar por um país se violência, onde passamos a andar tranqüilamente pelas ruas seja qual for a decisão final.

Utopia ou realidade, as opiniões devem estar em consonância com a segurança de cada brasileiro.


Dirceu de Souza Cetto, Alfredo Chaves (ES)

Estudantes de comunicação social, com habilitação em relações públicas.

Fonte: O Jornal, 26/8/2005.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 6

Trabalho infantil consome futuro de muitas crianças

Jô Azevedo


Estatísticas recentes apontam a existência de cerca de milhões de crianças trabalhadoras entre 5 e 15 anos no Páis. A maior parte na agricultura, nas culturas de tomate, café, algodão, sisal, frutas e outras. Também em atividades como fabricar tijolos ou blocos, quebrar pedras ou produzir carvão vegetal. Nas cidades trabalham como empregadas domésticas, nos lixões catando material reciclável, como office-boys, vendedores de doces nos semáforos e “aviões” para o tráfico de drogas.

Muitas atividades têm na sua rotina as mãozinhas de muitas crianças e a gente nem sabe disso. Mas por que isso acontece? O costume, os hábitos da comunidade, a pobreza familiar, a falta de estudo dos pais, a ausência de escolas, políticas públicas e formas adequadas de geração de renda, além da natureza do mercado de trabalho são alguns dos motivos que levam milhares de pequenos brasileiros a trabalhar.

Criança que vai trabalhar cedo consome seu futuro nas jornadas de trabalho. Não consegue conciliar escola e trabalho, abandonando muito cedo as aulas. E hoje o exigente mercado de trabalho já não se contenta com a escola fundamental. Uma escolarização com tempo mais longo é uma exigência das atividades mais bem remuneradas. Se não há preparo adequado, o círculo de pobreza em que suas famílias estão mergulhadas vai continuar. Então trabalho infantil é um grande ceifador de futuros brilhantes. Tem mais: o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, uma conquista da sociedade brasileira, proíbe o trabalho de crianças até os 15 anos, salvo na condição assistida de aprendiz.

Se buscamos uma sociedade menos desigual, em que a distância entre ricos e pobres não seja tão grande como agora, temos de acabar com o trbalho infantil. Ele é um dos motivos para continuidade do ciclo da miséria em muitas regiões brasileiras. É preciso quebrar esse ciclo, oferecendo outras formas de socialização para essas crianças. Se a educação é um direito de todos, precisamos lutar para que ela seja estendida de fato e com qualidade exigida a todas as crianças, para que todas possam desenvolver habilidades mínimas, senso crítico, visão de mundo e se preparem para a cidadania plena.

Muita gente acredita que o trabalho infantil é a solução. Mesmo os pais dessas crianças pensam dessa forma, pois não têm alternativa. Esta é uma estratégia de sobrevivência que adotam para amenizar os efeitos do desemprego e dos salários baixos e aumentar a renda minguada da família. Também encaram o trabalho como forma de treinar os jovens para o mercado, diante da precariedade da escola pública. Não enxergam que, assim, ao invés de expandir,limitam o desenvolvimento possível de seus filhos.

Outro argumento a favor do trabalho infantil o contrapõe à vadiagem. Ele seria uma alternativa para que a criança não vá para a rua e caia na marginalidade. Mas esse entendimento não mascara a falta de alternativas para socializar essas crianças? Esportes, ações complementares à escola, cultura e atividades de lazer, práticas comuns para crianças de classe média, não deveriam ser estendidas a todos os jovens, por meio de políticas públicas adequadas?

Todas essas questões estão na preocupação de muita gente: educadores, gestores de organismos internacionais, governantes, legisladores, juízes. Há mais de uma década o País se movimenta para enfrentar o problema. Primeiro, apontando as situações do trabalho infantil. Depois, por meio de governos e setores da sociedade, propondo programas para dar conta dele. Assim surgiram as bolsas para garantir a freqüência à escola, as programações de atividades complementares à jornada escolar, os cursos profissionalizantes, a assistência às famílias em situação de risco, os programas emergenciais de geração de renda, etc. Mesmo assim, é pouco. É preciso uma política pública para acabar com essa praga. Por isso, nosso papel é muito importante. A fase de combate ao trabalho infantil que se inicia no novo milênio precisa ser pautada pela forte exigência de todos os setores sociais para que políticas públicas mais abrangentes sejam implementadas.


Jô Azevedo é jornalista, co-autora dos livros

Crianças de fibra (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1994);

Serafina e a criança que trabalha (São Paulo, Ática, 1996);

Trabalho infantil O difícil sonho de ser criança

(São Paulo, Ática, 2003).

Textos Olimpíadas de Português - Texto 5

A futura gestão dos recursos hídricos

Cássio Borges


No semi-árido nordestino, a irregularidade das chuvas tem ocasionado “ciclos secos” de até oito anos seguidos, como o que foi constatado entre os anos de 1950 e 1958. Mais recentemente, tivemos “um ciclo seco desfavorável” de cinco anos entre os anos de 1979 e 1983, tendo a sua abrangência atingido até mesmo o Estado do Maranhão. A existência desses “períodos críticos”, já há tempos constatada pelo Dnocs, acarreta a redução do aporte de água fluvial para os reservatórios, o que, por deficiência de recarga e por medida de precaução, impossibilita a utilização plena do volume de água armazenado nos açudes e, em conseqüência, boa parte dele se perde pela elevada evaporação.
Ao integrar os grandes açudes da região a uma fonte perene externa como o Rio São Francisco, os recursos hídricos locais se potencializarão, possibilitando a gestão de um volume bem maior da água armazenada, estimulando o desenvolvimento social e econômico, tanto na agricultura irrigada, na pecuária, como na indústria, gerando emprego, renda e produzindo alimentos, o que é de interesse nacional. Com a garantia dessa fonte externa, intensificando-se a utilização das águas acumuladas nos reservatórios, diminuirá a superfície exposta à evaporação e esta se reduzirá, aumentando de forma substancial a disponibilidade hídrica realmente utilizável. Em outras palavras, o desenvolvimento social e econômico se dará de forma mais abrangente não pela água do Rio São Francisco que estará chegando, mas pela intensiva utilização das águas locais que seriam perdidas para a atmosfera pelo efeito incontrolável da evaporação. Desta forma, as águas advindas da transposição serão reservadas, exclusivamente, ao abastecimento humano e animal sempre que os açudes estiverem secos, ou na iminência de secar.
Como exemplo, o açude Castanhão, localizado no Ceará, que perde a evaporação, me média, cerca de 25 m³/s, enquanto o aproveitamento regular de sua água é de apenas 19 m³/s. Essa perda poderia ser reduzida para até menos da metade, gerando virtualmente um novo reservatório e aumentando significativamente o aproveitamento de suas águas. Pois esse açude acumula 4,2 bilhões de m³ na sua cota de regularização. Desse volume, 30% são, me média, evaporados anualmente, restando, portanto, 3 bilhões. Destes, apenas é utilizável um volume da ordem de 600 milhões de m³ (19 m³/s), pois os restantes 2,4 milhões de m³ deixam de ser utilizados justamente para “guardar a água” para vencer uma possível futura seca prolongada, ou um “trem de anos secos”, no vocabulário do Dnocs. Não mais será necessária essa precaução de “guardar água” após a concretização da transposição, ou como quer o ministro Ciro Gomes, do Projeto de Interligação de Bacias.
Como acima foi explicado, desaparecerá completamente o mais recente argumento dos opositores:” a água vinda do Rio São Francisco é muito cara” ou, ainda, “é chover no molhado” (ver Folha de S. Paulo, do dia 17/10/2005, na entrevista dada pelo pesquisador João Suassuna na matéria sob o título: “Para opositores, projeto é chover no molhado”). Mas esse tipo de declaração só se pode atribuir à completa ignorância do que seja o semi-árido e aí incluo muitos dos que dizem ser cientistas (em que área da ciência?) e, por isso, se acham com o direito de falar sobre esse tema nordestino, delicado e complexo, que desconhecem.
Não pode deixar de ser salientado que, pelo acima exposto, o custo da água trazida pela transposição será diluído no uso mais intenso e eficaz da água nos açudes. Ou seja, na realidade, cada m³ transposto irá representar um volume maior utilizável. Pelo que, inegavelmente, não é o custo do m³ da água bombeada do Rio São Francisco que deve ser considerado na análise do custo benefício da transposição, mas sim sua eficiência hídrica.

Cássio Borges é engenheiro civil, ex-diretor regional do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).

Fonte: O Povo, de Fortaleza (CE).

Textos Olimpíadas de Português - Texto 4

Deficientes, feios e pobres
Jessé Souza

Esse mundinho de criar frase politicamente correta para os excluídos ou injustiçados é mais que hipocrisia. É idiotizante. Querem transformar negros em afro-descendentes. Índios em nativos. Deficientes físicos em portadores de necessidades especiais.
Tudo isso não passa de uma forma que os politicamente corretos acharam para tentar esconder que — mesmo com o pomposo nome de portadores de necessidades especiais — os deficientes físicos continuam sem acesso, sem respeito se sem poder de exercer plenamente sua cidadania.
Tenho um irmão cadeirante (que anda de cadeira de rodas, um paraplégico T-4) — aviso logo, antes que digam que estou comentando algo que eu não entendo. E não é uma terminologia pomposa que o vai dignificar ou mudar a situação de exclusão em que vive, mesmo rodeado de pessoas que o apóiam e o ajudam a ultrapassar obstáculos tanto físicos quanto psíquicos.
Os prédios não dão acessibilidade, os taxistas fazem cara feia e não param, os ônibus não estão adaptados e as pessoas, em vez de tratarem o deficiente físico como um cidadão, acabam os classificando como coitadinhos ou os rodeando de uma pena irritante.
Entre eles mesmos, os cadeirantes se divertem os colocando apelidos e chamando sem arrodeios ou hipocrisia por suas deficiências. E nós, tendo um em nossa família, aprendemos que essa história de palavras politicamente corretas não passam de uma cortina para esconder as graves falhas da sociedade com quem é diferente, feio, aleijado, pobre, de cor...
Não importa se chamamos de puta, garota de programa, mulher da vida ou qualquer terminologia politicamente correta. O que importa é se este politicamente correto é só da boca para fora ou estamos carregados de preconceito ou exclusão.
Não interessa se o cadeirante é paraplégico, aleijado,deficiente ou portador de necessidades especiais. Importa é o engenheiro construir rampas, o taxista parar e dobrar sua cadeira no portamalas, o prédio público ter banheiros adaptados e os meios-fios adaptados.
Jamais iremos construir um mundo sem exclusão achando que buscando palavras politicamente corretas estamos acionando uma varinha de condão para incluir e dar acessibilidade aos deficientes ou mudando a mentalidade de quem discrimina e exclui.
Só vamos mudar a realidade de quem está em desvantagem em relação aos que se acham normais permitindo que os portadores ou deficientes de toda espécie exerçam sozinhos seu direito de ir e vir, sintam-se cidadãos plenos e possam viver sem ser tratados como coitadinhos, que precisam de pena e dó para que as leis sejam respeitadas.

Jessé de Souza é jornalista.
e-mail: jesse@folhabv.com.br
Fonte: Folha da Boa Vista, 19/9/2007.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 3

Sou contra a redução da maioridade penal

Renato Roseno



A brutalidade cometida contra dois jovens em São Paulo reacendeu uma fogueira: a redução da idade penal. Algumas pessoas defendem a idéia de que a partir dos dezesseis anos os jovens que cometem crimes devem cumprir pena em prisão. Acreditam que a violência pode estar aumentando porque as penas que estão previstas em lei, ou a aplicação delas, são muito suaves para os menores de idade. Mas é necessário pensar nos pôrques da violência, já que não há um único tipo de crime.

Vivemos em um sistema socioeconômico historicamente desigual e violento, que só pode gerar mais violência. Então, medidas mais repressivas nos dão a falsa sensação de que algo está sendo feito, mas o problema só piora. Por isso, temos que fazer as opções mais eficientes e mais condizentes com os valores que defendemos.

Defendo uma sociedade que cometa menos crimes e não que puna mais. Em nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultos juntos no mesmo sistema penal. Fazer isso não diminuirá a violência. Nosso sistema penal como está não melhora as pessoas.

O problema não está só na lei, mas na capacidade para aplicá-la.

Sou contra porque a possibilidade de sobrevivência e transformação destes adolescentes está na correta aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lá estão previstas seis medidas diferentes para a responsabilização de adolescentes que violaram a lei. Para fazer bom uso do ECA é necessário dinheiro, competência e vontade.

Sou contra toda e qualquer forma de impunidade. Quem fere a lei deve ser responsabilizado. Mas reduzir a idades penal é ineficiente para atacar o problema. Problemas complexos não serão superados de modo simplório e imediatista. Precisamos de inteligência, orçamento e, sobretudo, de um projeto ético e político de sociedade que valorize a vida em todas as suas formas. Nossos jovens não precisam ir para cadeia. Precisam sair do caminho que os leva até lá. A decisão agora é nossa: se queremos construir um país com mais prisões ou com mais parques e escolas.


Renato Roseno é advogado, coordenador do

Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca — Ceará) e da Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced).


Fonte: .


Textos Olimpíadas de Português - Texto 2

Violência não, educação sim
Antônio Ermírio de Moraes


O IBGE acaba de publicar a nova estatística de mortalidade da população. Ela mostra que o Brasil envelheceu, mas, lamentavelmente, ficou mais lento. O envelhecimento traduz a marca das nações desenvolvidas, nas quais as pessoas estão vivendo mais e com mais qualidade. O Brasil está na trajetória.
Em 1960, a esperança de vida era de 55 anos. Hoje é de 72 anos — feito que traduz a melhoria dos sistemas de prevenção e tratamento de doenças, entre outros fatores.
É inaceitável, porém, verificar que a violência cresceu 100% nesse período, tendo chegado a um patamar horripilante. Em 2005, 12,5% do total de óbitos foram devidos a homicídios, suicídios e acidentes de trânsito. Essa é a marca do antidesenvolvimento.
Não sou especialista no assunto,mas leio que o problema tem muitas causas: desarranjos familiares, falta de emprego, baixa renda, habitação precária, educação de má qualidade etc.
Álcool e droga são componentes de muita importância. A redução dos exageros do álcool e a eliminação do uso de entorpecentes ajudariam muito na diminuição das mortes violentas. Isso, requer uma série d medidas nas famílias, escolas, igrejas, no trabalho e nos fatores de potencialização de uso — bares e casas noturnas, por exemplo.
Nesse aspecto, há boas promessas. Vários municípios estão proibindo proibindo o funcionamento dos bares nas madrugadas. Na capital de São Paulo, com o esforço de apenas 30 fiscais, a lei está sendo respeitada de forma crescente. Os repórteres do caderno da Metrópole de “O Estado de S. Paulo” observaram que, às 2h, o único ser vivo que perambulava no bairro boêmio de Vila Madalena na noite de sexta-feira, 23 de novembro, era um cachorro vira-lata. A grande maioria dos bares estava de portas fechadas. Assim ocorria em vários outros bares da cidade. Calma na cidade.
O fechamento desses estabelecimentos em horários civilizados ajudou a reduzir os ruídos provocados pelos bares, restaurantes, danceterias e casas noturnas. Pode-se dizer que os paulistanos passaram a dormir, finalmente, um sono melhor, mais do que merecido, depois de um dia de trabalho estafante.
Sei que isso é uma gota d'água no combate à criminalidade e à violência urbanas. Mas, se cada um fizer sua parte — por menor que seja —, podemos ter dias melhores.
Não podemos continuar perdendo tantos jovens em atos desvairados e por violência. Os mais atingidos são os rapazes de 20 a 29 anos, que estão na flor da idade e têm pela frente uma vida a ser construída em benefício próprio e do Brasil.
Oxalá a próxima pesquisa do IBGE mostre que os brasileiros vivem mais, melhor e em paz!

Folha de S. Paulo, 9/12/2007.

Textos Olimpíadas de Português - Texto 1

Brasileiro “ganha” 5 meses de vida em 1 ano

De acordo com dados do IBGE, expectativa de vida no Brasil chegou a 72,3 anos em 2006, contra 71,9 anos em 2005.

No ranking mundial, o Brasil aparece só na 114ª posição, atrás de China e Turquia e de países latino-americanos como Venezuela e Colômbia.


Pedro Soares

Da sucursal do Rio


Quem nasceu no ano passado”ganhou” mais 4 meses e 26 dias de vida em relação aos que nasceram em 2005. Foi quanto aumentou a expectativa de vida do brasileiro de 2005 a 2006 ano me que o indicador chegou a 72,3 anos, segundo a Tábua de Mortalidade de 2006, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2005, a média era de 71,90 anos. Em 1960, a expectativa de vida era de 54,6 anos. De 1960 a 2006, aumentou em 17 anos, 8 meses e um dia. De 2001 a 2006, o ganho ficou em três meses e 27 dias por ano, na média do período.

Pelos dados do IBGE, o Distrito Federal teve a maior expectativa d vida em 2006: 75,1 anos. Alagoas ficou em último — 66,4 anos. A disparidade — como já havia sido verificado em anos anteriores — se manteve elevada: 8,8 anos.

Persiste ainda, segundo o IBGE, a diferença entre expectativa masculina e a feminina. Enquanto os homens viverão, em média, 68,5 anos, as mulheres têm uma esperança de vida de 76,1 anos. Ou seja, viverão mais 7,6 anos. O principal motivo é o fato de os homens estarem mais expostos às mortes violentas, afirma o instituto.

Segundo o IBGE, a melhoria no acesso à saúde, as campanhas de vacinação, a maior escolaridade, a prevenção de doenças e o avanço da medicina contribuíram para o aumento da expectativa de vida. No ranking mundial, O Brasil aparece, porém, na 114ª posição, atrás de outros emergentes como China e Turquia e de países latino-americanos como Venezuela e Colômbia.

O ranking é da CIA (agência de inteligência norte-americana).

Encabeçam a lista Andorra (83,5 anos), Macau (82,3 anos) e Japão (82 anos). Já as piores marcas são de Angola (37,6 anos) e Suazilândia (32,2 anos).

Juarez Oliveira, técnico do IBGE, diz que a tendência histórica e de aumento da expectativa de vida em razão especialmente da melhora das condições de saúde e saneamento. Ele ressalta, porém, que o Brasil vive uma “crônica” e “grave” desigualdade entre os Estados. “Há muito o que se fazer para reduzir essa desigualdade regional crônica, que tende a se perpetuar neste século se nada for feito”, diz.

Segundo o IBGE, pouco mudou no retrato da desigualdade nos últimos 26 anos. A diferença entre a mais alta expectativa de vida — a das mulheres do Distrito Federal — e a mais baixa — a dos homens de Alagoas — cedeu de 18,3 anos de 1980 para 16,5 anos em 2006. “Isso mostra que o grave quadro de desigualdade persiste. “Em São Paulo, a expectativa de vida foi de 73,9 anos em 2006, com um crescimento de 12,3% em relação à marca de 1980 (65,9 anos).


Folha de São Paulo, Cotidiano, 4/12/2007.